Adultos temporários também fazem arte…

Palavras podem, muitas vezes, devem te trair… Porém escrever é sob diversas análises totalmente pessoal, uma forma de ser… Assim como a música. Sei pouco de teoria musical, mas conheço bem as tensões e os descansos, os acordes doces, suaves, tristes… E o tempo fluindo e suas pausas… Envelhecer os dedos sobre instrumentos musicais é uma ótima forma de viver… E aproveitar a curta experiência humana. Assim como escrever, pintar quadros, beber vinho e fazer amor… O lar em uma noite de inverno, entre camaradas… Da mesma forma escrever uma grande história, não em tamanho, mas em vida… Não depende do conhecimento da gramática da língua… Depende do contador da história… O homem… Aprendi a escrever na adolescência lendo 5 livros por semana, por puro prazer. De Vitor Hugo a Hunter S. Thompson… Nada me escapava, e claro, absorvi as diversas linguagens e inconscientemente diversas técnicas foram moldando os infindáveis formatos de minha escrita e música. Nunca fui muito dado a preconceitos, não digo que não tenho, só nunca me apeguei muito neles e me tornei um tipo de fanático, tão comum de observar por aí… Mas quando crianças e adolescentes temos que nos proteger, ou pensamos assim, naturalmente montamos artifícios e carapaças para suportar o esquema social… Pense então em uma criança e adolescente extremamente tímido… Sim, foda… Livros e música eram a libertação de todas as amarras psicológicas impostas pelo formato de um mundo chato pra cacete, cheio de regras, pouca liberdade. Ou se era preconceituoso ou seria o ator central dos pré conceitos… Era uma escolha simples.

Proteger nosso mundo sagrado, sonhos essenciais, a infância com sua mágica… O poder disto tudo ainda nos ronda… Na vida ordinária somos adultos temporários sempre ávidos para voltarmos a infância… O que são todas as suas transgressões… Bebedeiras, drogas, loucuras sexuais, aventuras cheias de adrenalina… Vai pensando aí… Sempre desesperados por atenção… Até atingir alguma evolução estará neste círculo, quando começa a compreender o processo continua fazendo todas as bobagens de criança, mas já sem um vínculo tão forte, como se lançar luz sobre os fatos não te fizesse um santo, porém não será um bandido…

A música e a literatura, e toda e qualquer arte é impregnada desta evolução… A loucura, o rotineiro, a paixão que segue sempre junto com a dor, o insight que descortina um novo EU… E piorar, depois melhorar… Sua profundidade é a única medida de SUA arte. Ninguém pode mensurar ou questionar ou criticar… Ela te pertence até o dia de sua despedida… Nenhum sorriso ou lágrima é desperdiçado… Escute a batida de seu coração, é a primeira música… Olhe para os seus pensamentos, a Letra, o poema, Tudo está muito longe do conservadorismo técnico, que tem sua função mas tem que vir depois da arte… Concordo com o Hermeto…

Não seremos só uma inscrição em uma lápide. Um ponto final. Daremos o passo instintivo de sobrevivência humana. Não adormeceremos no último arfar… Fazer arte é o treinamento da vida sobre a morte, o passo evolutivo necessário custe o que custar. O próprio movimento do universo com suas estrelas, planetas com sua própria música… A música das esferas? Se não me falha a memória, Platão… Se não for fique a vontade em me corrigir… Ela é, a dança do cosmos e suas leis prontas para serem descobertas e desta forma o homem é cada vez mais livre…

Uma moeda é lançada do décimo andar… Enquanto a gravidade age… Milhares de sons se conectam naquele momento fatiado… A própria paisagem muda em outros diferentes tons de luz… E quando toca o solo, salta uma, duas, tres vezes, percussiva… Até finalmente repousar, junto ao canto de pássaros no entardecer de mais um dia… Música?